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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O BCE a atirar a Grécia para fora do euro? (por Helena Garrido)


Ideias inovadoras para resolver a crise do euro que já dura há cinco anos? Era o que mais faltava. Modelo único e antidemocrático é que é. Mesmo que isso tenha ainda mais custos para os contribuintes europeus. Mesmo que isso dificulte ainda mais a vida aos gregos. Mesmo que isso signifique continuarmos todos à espera da prosperidade enquanto a extrema-esquerda e a extrema-direita vão somando votos, uns no Sul da Europa, outros no Norte da Europa.

Foi esta a mensagem que o Banco Central Europeu enviou na quarta-feira ao fim do dia ao anunciar que iria deixar de aceitar dívida grega como colateral para ceder liquidez ao sistema financeiro. Argumentando, pasme-se, com a perspectiva de que não vai ser concluída a próxima avaliação da troika. Se existiam dúvidas, já todos percebemos. No euro ninguém quer resolver a crise, quer mostrar que tem razão no modelo que está a aplicar. E que as coisas ou são feitas à sua maneira ou seremos todos castigados. É triste, mas este é um exemplo de que a Europa da cultura e do pensamento livre, que procura as melhores soluções para os problemas dos seus cidadãos, acabou.

No mesmo dia em que o ministro das Finanças grego esteve no BCE em Frankfurt e um dia antes de se encontrar com o todo-poderoso ministro alemão das Finanças, o BCE resolve apertar o Governo grego, há menos de duas semanas em funções, sabendo perfeitamente que a sua decisão apenas vai agravar a tendência já instalada de fuga de depósitos da Grécia. Atirar lenha para a fogueira foi o que fizeram os governadores dos bancos centrais da Zona Euro. Agravaram a crise grega.

A estratégia ditada seja lá por quem for – Angela Merkel? Tecnocracia de Bruxelas ou de Frankfurt? – vai acabar com a moeda única. Haverá um povo dos muitos povos europeus que acabará por preferir os horrores de sair do euro a continuar a assistir a este assassínio da alma da construção europeia e da democracia. Quem está à frente da Europa deixou de gostar dos seus companheiros europeus e mais cedo ou mais tarde vamos todos pagar caro por isso. Não se iludam os que pensam que ficaremos melhor sem a Grécia, ou sem Portugal, ou sem a Espanha, ou sem a Itália. A União Europeia está a cavar a sua sepultura e a promover o nascimento dos extremismos. O BCE só tem desculpa se tiver feito o que fez para forçar os políticos a mudarem de estratégia. Vamos ver.»

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