Este blogue é uma extensão de Entre as brumas da memória.

sábado, 26 de outubro de 2013

O herdeiro, São José Almeida, Público, 26/10/2013


O herdeiro

«Ouça, tenho uma boa vida. Se voltei ao comentário político, é porque me quis defender, estava a ser atacado sem defesa. Não sinto nenhuma inclinação para voltar a depender do favor popular.» As afirmações são de José Sócrates antigo primeiro-ministro de Portugal entre 2005 e 2011, indicado para o cargo pelo PS, partido de que era secretário- geral, depois de duas vitórias em eleições, em 2005 com maioria absoluta e em 2009 com maioria relativa. Esta é a forma como Sócrates responde à pergunta sobre uma eventual candidatura sua a Presidente da República, na entrevista ao Expresso.

Para além da questão pessoal de divulgar que tem “uma boa vida” e da confissão, algo ingénua, de que usa a tribuna de comentador político no canal público de televisão para fazer a sua defesa, pois sentia-se atacado, Sócrates revela uma profunda desconsideração pelo que é a democracia política. Numa entrevista em que um dos seus objectivos, como entrevistado, é apresentar-se como um democrata e um intransigente defensor dos direitos humanos – assunto que é o tema central da sua tese de mestrado cujo resultado publica agora em livro –, chega a ser chocante a forma como Sócrates fala da possibilidade de se voltar a candidatar a um cargo político.

Quando o que caracteriza a democracia política é a igualdade de decisão entre todos, ou seja, a garantia de que a escolha política assenta no princípio de “uma pessoa, um voto”, Sócrates revela uma pesporrência que ultrapassa toda a sua anterior retórica. É que falar da hipótese de uma candidatura eleitoral como sendo algo por que se sente “inclinação” e da eleição em si como de uma circunstância em que o candidato se faz “depender do favor popular” manifesta um nível de arrogância, que ultrapassa os níveis de vaidade pessoal que num ou noutro momento da sua vida política demonstrou. A leitura desta passagem leva até a questionarmo-nos sobre se estaria a falar a sério ou a ironizar e sobre o que queria dizer com esta frase. Será que Sócrates aderiu a conceitos de conquista de poder não electivos? Será que é adepto de formas monárquicas de poder em que este se recebe por herança?

A entrevista feita por Clara Ferreira Alves — que não deixa de fora os temas difíceis para o antigo primeiro-ministro — serve para, mais uma vez, Sócrates fazer a justificação e a defesa da sua governação. E, mais uma vez, afirmar, referindo-se ao PEC IV, que tinha uma solução negociada “com a Comissão Europeia e com o Conselho” que estava consubstanciada na “elaboração de um Programa de Estabilidade e Crescimento”, em que o Governo se comprometia com novas “exigências orçamentais” em troca da ajuda financeira que viabilizaria o funcionamento do Estado. E que essa solução foi inviabilizada porque o PSD retirou o tapete ao PS, com o alegado apoio do Presidente da República.

É verdade que ao rejeitar o PEC IV, em Março de 2011, o PSD rompeu o acordo orçamental que tinha estabelecido com o PS no ano anterior e que permitira viabilizar, em Março de 2010, o Programa de Estabilidade e Crescimento (2010-2013), bem como as suas revisões de Maio e de Setembro. E ainda o Orçamento para 2011, negociado entre o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, e Eduardo Catroga, ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva, indicado pelo Presidente da República como mediador do PSD. De facto, o PSD inviabilizou o PEC IV e com isso lançou o país em eleições antecipadas, que previa ganhar.

O que parece mais difícil de compreender é que Sócrates acredite mesmo que a situação hoje em Portugal seria muito diferente do que é, se o seu PEC IV tivesse sido aprovado. É que, ainda que a aprovação do PEC IV não tivesse precipitado a assinatura do memorando de entendimento para assegurar que a União Europeia viabilizava empréstimos financeiros a Portugal, a realidade é que o PEC IV — assim como o PEC III — continha já muito do que eram a essência das orientações políticas que a União Europeia queria impor para alterar o modelo de organização do Estado português. Até porque à subida de impostos e aos cortes na despesa pública existentes já no PEC II no PEC III somaram-se o congelamento de pensões e os cortes no rendimento da função pública. E foi, recorde-se, no Orçamento para 2011 que foi criado o “imposto” sobre o 14.º mês.

Em suma, José Sócrates pode queixar-se do PSD, por Passos Coelho lhe ter tirado o tapete para chegar ele mesmo a primeiro-ministro. Mas não pode dizer que o PEC IV salvava o país da política de austeridade – simplesmente porque foi com Sócrates que a política de austeridade começou e foi Sócrates que cedeu às receitas neoliberais. A diferença entre Sócrates e o que fez e faz Passos é só de grau de intensidade. 
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terça-feira, 25 de junho de 2013

E se discutíssemos um novo partido à esquerda? (Público, 25/6/2013)


Por Jo­sé Ví­tor Ma­lhei­ros

Um dos muitos temas tabu na esquerda portuguesa, que tem vindo a ser colocado na ordem do dia por diversas pessoas, entre as quais Rui Tavares, o eurodeputado independente eleito nas listas do Bloco de Esquerda mas que hoje integra o grupo d’Os Verdes no Parlamento Europeu, é a eventual criação de um novo partido à esquerda.

Uma entrevista dada ontem ao jornal i, intitulada “Eurodeputado Rui Tavares defende a criação de novo partido à esquerda”, veio reacender o debate. Deixemos de lado o facto de o eurodeputado em momento nenhum da entrevista defender realmente a criação de um novo partido — Rui Tavares diz apenas que, se a “melhor ferramenta para que a sociedade portuguesa faça mexer as placas tectónicas da nossa política (...) for um partido, não devemos ter vergonha disso” — e tentemos discutir a coisa em si.

O eventual aparecimento de um partido à esquerda representa, por um lado, um concorrente para os actuais partidos de esquerda com representação parlamentar — PS, BE e PCP — que ameaça disputar um universo eleitoral cada vez mais escasso. Ainda que esse eventual partido nasça de segmentos da esquerda (independente ou partidária) que têm defendido a união da esquerda como forma de combater mais eficazmente a direita neoliberal e ainda que essa atitude se traduza no seu programa, este partido deverá assim enfrentar uma barragem de acusações de divisionismo da esquerda e de benefício objectivo da direita.

As acusações não terão nada de original, mas vale a pena discutir os seus pressupostos. Essa crítica parte da crença de que existe uma reserva de votos de esquerda, relativamente estável, que se divide, com maior ou menor convicção, pelos partidos actuais, e que as abstenções, votos nulos e brancos (44% nas últimas eleições) representam, por uma razão ou por outra, cidadãos perdidos para a política. Existe a convicção de que os abstencionistas são fundamentalmente cidadãos conservadores que não sentem uma urgente necessidade de mudar e, quando a sentem, não a exprimem através de votos à esquerda.

Considerando as eleições como este jogo de soma nula, é evidente que o surgimento de um novo partido pode representar um risco de vida para os incumbentes e a sua reacção pode prever-se violenta. Só que há muitas razões para pensar que as eleições não têm de ser um jogo de soma nula.

A multiplicação de movimentos de cidadãos, associações políticas e grupos de activistas mais ou menos orgânicos é um claro sinal (como a própria abstenção) de que uma parte significativa dos eleitores não se sente representada na prática política dos actuais partidos (como tem sido amplamente estudado por investigadores como André Freire e Pedro Magalhães).

Sintomaticamente, também, a esmagadora maioria das organizações surgidas nos últimos anos está claramente situada à esquerda — no que podemos definir como a área antiausteritária — e os independentes ocupam nelas um espaço significativo.

O que estes movimentos sugerem, na sua diversidade, é que há um povo de esquerda que procura plataformas onde possa agir e que está disponível para as construir de raiz, à margem das organizações políticas actuais e sob formas não tradicionais.

E, ao contrário do que sucedia há uns anos, quando os abstencionistas eram tendencialmente conservadores ou “apolíticos”, existem muitos destes cidadãos que se recusam a participar no jogo eleitoral por não verem nele uma real alternativa mas que são cidadãos conscientes e activistas que se situam à esquerda do espectro político.

O que isto significa é que existe uma reserva de votos à esquerda que nenhum partido está a atrair mas que pertencem a cidadãos que querem inscrever-se no debate político e alterar o statu quo.

A democracia exige organizações capazes de representar os anseios dos cidadãos e de reflectir as suas opções ideológicas. A crise da democracia que vivemos não tem apenas que ver com um errado “funcionamento” dos partidos (compadrio, opacidade, corrupção, falta de diálogo) mas tem que ver também com a sua pobreza ideológica. O espectro ideológico representado no Parlamento é caricaturalmente estreito quando comparado com a realidade social.

Há, pois, votos de esquerda (ou, simplesmente, votos pró-democracia) a conquistar para a política, que um novo partido poderia roubar à abstenção. Mas há também necessidade de enriquecer as opções políticas colocadas à consideração dos cidadãos e isso pode, naturalmente, traduzir-se por uma transferência de votos entre partidos. Mas um novo partido de esquerda não roubará aos actuais partidos de esquerda senão os votos que já não lhes pertencem e que apenas aí estão estacionados por falta de alternativas mais aliciantes. Não há nenhuma razão válida para manter uma oferta política tão estreita como a actual (em número e género de escolhas) quando existe sede de coisas novas. A diversidade das esquerdas é um valor e uma necessidade que nenhuma “economia de escala” eleitoral deve esquecer.


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domingo, 9 de junho de 2013

Público, 8/6/2013, p.48


José Pacheco Pereira – “Eles” (os funcionários públicos) são uma parte de “nós”

O que se passa na actual ofensiva do Governo contra a função pública está muito para além da condição de se ser “funcionário público”. O discurso do Governo — mais uma vez um discurso de divisão entre os portugueses, a que chamei e chamo “guerra civil” — pretende legitimar as suas acções como tendo a ver com aquilo que apresenta como “privilégios” dessa condição profissional. Os corolários são sempre os mesmos; está-se a atacar privilegiados, cujos privilégios são pagos pelos dinheiros dos contribuintes, em nome da “equidade”. Se temos impostos altos é porque esta gente “do Estado” tem o emprego garantido, ganha mais do que os trabalhadores do sector privado, tem maiores reformas. Tudo em parte verdade, tudo em absoluto mentira.

Este discurso colhe, porque as sementes da cizânia pegam sempre em momentos de empobrecimento, em que a mais fácil das cegueiras é olhar para o lado e ver que o vizinho tem mais uns tostões do que eu e ficar fixado nessa socialização da inveja entre os de baixo, muito próximos em condição e dificuldades, em vez de olhar para outro lado, para o lado de onde vem a minha miséria e a do meu vizinho. Para o lado de cima.

O que se passa com a função pública é relevante para todos nós, como método, como sinal, e, infelizmente, como imoralidade social, rompendo um contrato social que é suposto ser o tecido da nossa sociedade em democracia, em que existem diferenças e diferenciações aceitáveis e outras inaceitáveis. É porque o Governo quer esconder as inaceitáveis que assume agora uma espécie de igualitarismo para os imbecis, proclamando-se de uma rasoira igualitária que serve para violar contratos e garantias, direitos e condições, em nome de um “dinheiro” que não há nestes casos e que parece haver sempre nos outros. Alguém disse esta semana, e bem, que nunca ouviu o Governo responder que “não havia dinheiro” para as PPP, nem para os contratos swap, nem para a banca, só para os trabalhadores e para os reformados.

É por isso que o que o Governo está a fazer aos funcionários públicos tem um significado social muito mais vasto do que as peculiaridades do seu estatuto social e profissional. E o invólucro de uma pseudo-“reforma do Estado” é apenas a expressão orwelliana para mais um corte cego nos serviços públicos, sem nexo, sem consistência, nem sustentação, sem sequer corresponder a qualquer poupança estrutural, porque os custos das coisas mal feitas são muito maiores do que a poupança orçamental obtida a curto prazo.

Um dos aspectos mais inaceitáveis deste processo é o grau de dolo e fraude em que ele é feito. Repito-me, mas este é um dos aspectos mais repulsivos da actual governação. Todos os governantes juraram várias vezes, há dois anos, e há dois meses, que nunca haveria despedimentos na função pública, nunca haveria “mobilidade especial” para os professores, e que apenas quem quiser sair teria abertas as portas a “rescisões amigáveis”. O que ofende mais a consciência comum é que as mesmas pessoas que usaram o “nunca”, várias vezes e em contextos que não permitiam a ambiguidade, estão hoje na vanguarda de piruetas verbais mais obscenas para se desdizerem, parecendo aliás muito pouco preocupados com o valor da sua palavra.

Quando se justificaram, no passado próximo, muitas medidas de cortes salariais na função pública com o argumento de que podiam ser mais gravosas para os funcionários públicos, visto que eles tinham “a garantia do emprego”, o que se estava a fazer era mentir a todos, como método de actuação. O mesmo dolo foi a “mobilidade especial” e agora a “requalificação” que não são mais do que classificações enganosas em burocratês para os despedimentos. O despedimento de funcionários públicos estava inscrito no código genético desta governação desde o primeiro dia. Escrevi-o na altura com absoluta certeza de que iria ser assim. E foi.

Tudo isto nos diz respeito, funcionários ou trabalhadores do sector privado, porque ninguém tenha dúvidas de que se o Governo pudesse fazer a todos os trabalhadores portugueses o mesmo que está a fazer aos funcionários públicos, fá-lo-ia sem hesitar. Se, por despacho ou lei ordinária, em muitos casos sem sequer ir à Assembleia da República, fosse possível aumentar o horário de trabalho, permitir despedimentos discricionários por decisão unilateral do patrão ou do capataz, individuais e colectivos, sem qualquer enquadramento legal que proteja a parte mais fraca, nem simulacros de leis laborais seriam precisas.

E tudo isto nos diz respeito, porque é o medo o lubrificante do discurso de guerra civil do Governo. Sim, o medo das pessoas normais, que sabem que ninguém as defende, que não confiam na força dos sindicatos, que sabem que o silêncio cúmplice de Seguro não destoa dos actos de Passos Coelho, que sabem que se escorregarem ainda mais no plano inclinado da pobreza, cujo grande salto é o despedimento, terão uma vida infernal, difícil e envergonhada. E por isso hesitam, temem, retraem-se, têm a ilusão de que podem passar despercebidos ao olhar do chefe que vai escolher quem vai para a “mobilidade especial”, ou para a “requalificação”, ou seja, quem vai ser despedido.

A razão pela qual o povo português parece ser mais “paciente” resulta muito simplesmente de que muitos têm medo de perder ainda mais do que o que já estão a perder. E como o discurso da divisão deixa cada um sozinho na sua fábrica, na sua escola, na sua repartição, o medo ainda é eficaz. Mas o medo é destrutivo da sociedade e da democracia, e dá saída apenas para o desespero, o momento em que as pessoas percebem que já não há mais a perder. E nessa altura o seu desespero não se verá em manifestações da CGTP ou dos "indignados".

Uma das razões por que prefiro mesmo o desconhecido e o arriscado á situação presente, como sejam eleições antecipadas sem grandes expectativas, é que prefiro um tumulto que abra o espaço político a uma situação nova, à continuidade de uma governação que é uma forma muito pior de tumulto, é a destruição de um país em que a condição de se ser português não significa nada, porque já não existem laços comunitários em que nos reconheçamos.

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Soares apelou às esquerdas, mas com idêntico impulso crítico podia-se apelar às direitas, no mesmo sentido de acção contra este Governo. Quem tiver um mínimo senso patriótico e nacional, mesmo aceitando-se o lugar-comum de que é à direita que esse sentimento de patriotismo é mais agudo, não pode deixar de se preocupar e muito com a obra de destruição de Portugal e do tecido que uniu até hoje os portugueses.

O enorme falhanço da esquerda e da direita está em querer traduzir numa linguagem estereotipada e sectária uma realidade de devastação que em muito ultrapassa o discurso político tradicional. Os partidos políticos que assentam em termos programáticos numa ideia de cidadania (como o PS) ou de “pessoa humana” (como o PSD e o CDS) estariam à partida vocacionados para, pelo menos, compreender o que se está a passar e travar esta forma miserável de luta de uns contra os outros que não ousa dizer o nome, mas que é muito parecida com a “luta de classes”. Mas cada um ao seu modo, nas suas lideranças, traiu os seus programas e, por isso, está a estragar Portugal e a democracia.

Não é irrelevante o que se está a passar, para quem seja “justo”, para quem não seja indiferente ao tónus moral e cívico de uma sociedade, com todos os piores instintos a ser despertados e alimentados, para garantir um terreno favorável a um projecto de engenharia política que hoje está em decadência, mas que envenena a terra em que está a apodrecer. Se há um princípio cívico de moralidade — e é um cínico e um relutante defensor de argumentos morais em política que escreve isto — o que está a acontecer aos funcionários públicos deveria fazer soar todos os sinais de alarme.

Face a esta situação, precisávamos de gente como Thomas Paine que nos ensinasse que a “moderação no Bem” não é uma coisa boa. E que se a “moderação no temperamento é sempre uma virtude, a moderação nos princípios é sempre um vício”. Há momentos em que é precisa esta intransigência.
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quinta-feira, 2 de maio de 2013

Notícias Magazine, 28/4/2013




A história de Gabriel García Márquez em Lisboa, por Ricardo J. Rodrigues


No Verão Quente de 1975, Gabriel García Márquez veio passar duas semanas a Portugal. Encontrou-se com escritores e poetas, comoveu-se com o processo revolucionário e escreveu três reportagens para a revista que ele próprio tinha fundado, um ano antes, na Colômbia. Relato de uma viagem esquecida, reconstruída a partir de Lisboa, Bogotá e Cartagena de Índias. 

O postal de García Márquez chegou ao destino três semanas depois de enviado. Era uma fotografia da Ponte 25 de abril, com o Cristo Rei em fundo, e dizia apenas isto: «Lisboa é a maior aldeia do mundo. Quando chegar, conto-te desta revolução.» Juan Gossaín - um dos mais notáveis jornalistas colombianos e amigo do escritor desde os anos cinquenta - recebeu o correio na sua casa de Cartagena de Índias e não pôde deixar de sorrir. Gabriel, a quem trata carinhosamente por Gabo, tinha chegado à Colômbia muito antes da correspondência. E a viagem a Portugal já tinha sido largamente discutida numa conversa telefónica, dias antes. «Tenho pena, perdi esse postal há décadas, numa mudança de casa.» Mas, por uma questão de provocação, Gossaín nunca o esqueceu: «Desde esse tempo, sempre que nos encontramos, despeço-me de Gabo dizendo que ele ainda me deve uma conversa sobre Lisboa.» 

García Márquez aterrou no aeroporto da Portela no primeiro dia de junho de 1975, proveniente de Roma. «Tive a sensação de estar a viver de novo a experiência juvenil de uma primeira chegada. Não só pelo verão prematuro em Portugal e pelo odor a marisco, mas também pelos ventos e pelos ares de uma liberdade nova que se respiravam por toda a parte.» Estas palavras publicou-as ele, um mês mais tarde, na revista Alternativa, um semanário criado por si e por um grupo de intelectuais da esquerda colombiana, no ano anterior. «Por esta altura já tinha escrito Cem Anos de Solidão, era um romancista reputado e estava envolvido em muitas organizações internacionais», conta em Bogotá o jornalista Antonio Caballero, outro dos fundadores. «Viajava pelo mundo fora, ou a promover a sua obra ou em reuniões de trabalho. E às vezes ficava mais dois ou três dias num sítio para fazer peças jornalísticas.» Em Portugal, permaneceu duas semanas. 

É preciso dar muitas voltas à capital colombiana para encontrar os textos que Gabo escreveu sobre Lisboa. Na Rua 21 há uma série de alfarrabistas, mas é praticamente impossível encontrar uma edição da Alternativa. «Tivemos governos de direita muito fortes, e ter uma edição destas podia indicar que a pessoa era subversiva e perigosa», conta don Jimeno, dono da Libreria Mundial, que todos conhecem por Libreria Obscura - porque era ali que no final dos anos setenta se vendiam as obras da esquerda mais radical. Não só não tem uma única cópia para vender, como há anos não põe os olhos em cima de uma dessas revistas. Tente-se a biblioteca do Centro Cultural García Márquez, no bairro histórico da Candelária. Nada. 

Dois quarteirões acima reside a derradeira esperança: a hemeroteca. E é então que, encadernados num livro azul e pesado, se encontram os números 40, 41 e 42, publicados em 30 de junho, 7 e 14 de julho de 1975, respetivamente. Não podem ser digitalizados, mas podem ser fotocopiados. Fazem-se algumas fotografias à socapa, com o telemóvel. Um artigo chama-se «Portugal, território livre da Europa» e é pura reportagem, descrições de ambientes, de cheiros e das vivências de rua. Outro, «O socialismo ao alcance dos militares», um ensaio sobre a revolução portuguesa e o facto de as Forças Armadas terem organizado um golpe sem quererem guardar o poder para si. E ainda há um texto sobre o xadrez político do período revolucionário, as pressões europeias e americanas, os movimentos de organização popular. O título dessa reportagem, a segunda, encerra uma daquelas perguntas que ficaram até hoje por responder: «Pero que carajo piensa el pueblo?» 


A maior aldeia do mundo

Gabo tinha chegado a Lisboa depois de um voo atribulado. «Ele tinha um medo danado de viajar de avião, até chegou a escrever uma crónica sobre o assunto», conta Jaime García Márquez, irmão do escritor, no alto de um terraço com vista para a catedral de Cartagena de Índias. Está um dia quente e húmido, como são todos os dias na cidade caribenha. O escritor mora parte do ano ali perto, numa casa de muros vermelhos e altos. Não dá entrevistas, não faz aparições públicas e, anunciou o irmão mais novo, não voltará a escrever. Tem 86 anos e um diagnóstico de demência que lhe secou as palavras. «Pois Gabo, que nunca foi religioso, nesse voo para Portugal encomendou duas ou três vezes a alma à Virgem de Guadalupe. Ele costumava dizer que o único medo que um latino confessa é o de viajar de avião. E é verdade.» 

Ao lado de Gabriel García Márquez viajava Alfonso Fuenmayor, um jornalista de Barranquilla, de quem se tornara amigo, duas décadas antes, na redação do El Heraldo. Nesse tempo, Gabo era vice-presidente do Tribunal Russell, o tribunal internacional de crimes de guerra. Com a chegada de Pinochet ao poder no Chile e a ditadura militar brasileira numa das fases mais ferozes, havia a hipótese de abrir uma secção para a América Latina em Lisboa. Alfonso, que andava em viagem pela Europa, veio para dar uma ajuda na avaliação. Mas com o Verão Quente em pleno, a instabilidade política no país encarregar-se-ia de anular o projeto. 

Ficaram instalados no Ritz e, escreveu García Márquez no seu artigo, durante uma boa parte da estada só havia dois hóspedes no hotel - eles. «Lisboa é uma das mais belas cidades do mundo e, até há um ano, era também uma das mais tristes, por obra de uma rara ditadura medieval que durou quase meio século e cuja força se fundava numa polícia política inclemente. É um país de pobres que enfrenta obstáculos terríveis e uma pressão tremenda. Por causa da sua posição geográfica, está obrigado a sentar-se de sapatos rotos e casaco remendado na mesa dos mais ricos e sofisticados do mundo.» Gabo considerava que a sociedade portuguesa era mais próxima da sul-americana, mas que o país tinha uma espada sobre a cabeça para se tornar europeu. «Nos restaurantes caros, os mariscos exibem-se como joias nas vitrinas, mas são intocáveis, um luxo burguês. Nos restaurantes populares, onde se come um delicioso arroz com sangue de galinha, os empregados debatem-se com uma dúvida: no regime atual, é justo que recebam gorjeta?»
Um dia depois da sua chegada a Lisboa, os primeiros deputados eleitos em liberdade tomavam posse no Parlamento. Gabo decidiu fazer a cobertura da sessão solene de abertura da Assembleia Constituinte e, aí, cruzou-se com alguns dos mais emblemáticos nomes das letras portuguesas. Juntou-se um grupo que acabaria por ir jantar nessa noite à Varanda do Chanceler, um restaurante de Alfama (o mesmo onde Natália Correia haveria de apresentar Francisco Sá Carneiro a Snu Abecassis). No repasto estavam José Cardoso Pires, Fernando Namora e Luís de Sttau Monteiro. Também estava presente o poeta José Gomes Ferreira, na altura presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores. 

Esse encontro com García Márquez causou forte impressão em Gomes Ferreira. O poeta português - cujo poema Acordai, musicado por Lopes-Graça, tem servido de hino a vários protestos recentes - escreveria até algumas notas, após uma conversa com o escritor colombiano. Estes escritos nunca foram publicados, são inéditos e íntimos, papéis em bruto. Foram cedidos pelo seu filho, o arquiteto Raul Hestnes Ferreira. «García Márquez, à despedida, disse-me: "Buena sorte!" Tremi. O García Márquez: "Os portugueses são muito parecidos com os latino-americanos. Os espanhóis são mais severos, mais hirtos. Mais senhores solenes. Anos de tempestades".» Em 3 de junho, nova entrada no diário, um quase-poema: «Quando o García Márquez se despediu, desejando-me buena sorte, lembrou-se do Chile. Felizmente é a própria morte que me defende da morte. Que me importa viver mais um dia ou menos um dia? Sim, importa - diz-me a boca de uma nuvem que me acompanha noite e dia.» 


O que vai dar cabo da revolução é a conta da luz

A partir daquele jantar na Varanda do Chanceler, Gabo não voltou a estar sozinho em Lisboa. «Entre entrevistas com Vasco Gonçalves, Melo Antunes e Saramago, que nessa altura estava no Diário de Notícias [era director adjunto]», lembra Ernesto Santos Calderón, um dos mais importantes jornalistas da Colômbia, um dos melhores amigos de García Márquez e um dos fundadores da Alternativa, «também fez muitos amigos e divertiu-se bastante em Lisboa». 

José Carlos Vasconcelos, diretor do Jornal de Letras, lembra-se de ver o escritor colombiano na festa de aniversário de José Gomes Ferreira, na noite de 9 para 10 de junho, e novamente na Varanda do Chanceler. «Brincávamos todos juntos a dizer que o Gomes Ferreira tinha a mania das grandezas, queria nascer no dia de Camões.» Maria Velho da Costa conheceu García Márquez em casa de Sttau Monteiro. «Aquilo era para ser uma festa, mas estava a tornar-se numa tertúlia, era uma chatice tremenda. Às tantas Gabo perguntou-me se queria fugir dali.» Despediram-se rapidamente, saíram, apanharam um táxi para o Bairro Alto. «A minha memória funciona por imagens fotográficas», diz a escritora. «Lembro-me de descermos a rua em conversa animada. Lembro-me de que ele usava um fato de ganga, calças e casaco. E lembro-me de ficarmos umas boas horas num bar, a conversar e a beber whisky.» Às tantas, o colombiano disse que à revolução portuguesa não faltava heroísmo, faltava prudência e imaginação. «Então estamos bem tramados», respondeu Maria Velho da Costa. «Porque o povo português é como o diabo, sabe mais por velho do que por ser povo.» Essa sentença, descobriu a escritora portuguesa há uns dias, foi a frase com que García Márquez rematou a sua última reportagem em Portugal. 

A amizade mais estreita de Gabo em Lisboa era, no entanto, com o autor de Balada da Praia dos Cães. Tinham-se conhecido anos antes em Londres, quando ambos trabalhavam para o serviço internacional da BBC. Edite Cardoso Pires recorda-se dos encontros no terraço do Hotel Mundial, com vista para o Martim Moniz, epicentro da multiculturalidade da cidade. «A influência negra é notável em Portugal, manifesta-se mesmo no caráter dos portugueses», escreveu García Márquez. «E todo o país está saturado pela música quente de Cabo Verde e Angola, que parece a música do nosso trópico.» Era 1975, ano de independência das colónias. Gabo apanhou em cheio a chegada de refugiados, portugueses e africanos, e o regresso de soldados do ultramar. Em 1976, haveria de viajar várias vezes para Angola e escrever um artigo para a Alternativa sobre os novos ares de liberdade e as pressões que vinham de fora, fossem elas de Cuba ou da África do Sul. 

A teoria que Gabo expressou nos seus textos não era apenas a de um país cercado, era também o de um país dividido. «Desde a praça do Rossio até ao canto mais remoto e esquecido da província, não há um centímetro de parede, nem um sinal de trânsito, nem o pedestal de uma estátua que não tenha sido pintado com uma mensagem política. Os comunistas pedem unidade sindical. Os socialistas dizem que socialismo sim, mas com liberdades. A extrema-esquerda protesta contra o imperialismo capitalista, os liberais dizem que o voto é a arma do povo e os anarquistas contestam,que a arma é que é o voto do povo. À noite, a reação lança granadas contra as lojas, envenenando o mundo inteiro com o rumor infame que o Portugal formoso e tranquilo das canções morreu.» 

Ao mesmo tempo, o povo parecia querer ignorar as rivalidades, entregando-se à embriaguez feliz de Abril: «O erotismo invadiu os cinemas e os quiosques de jornais, fazendo que milhares de espanhóis atravessem ao fim de semana a fronteira para poderem ver o filme mais proibido em Madrid, O Último Tango em Paris. Lisboa tornou-se uma cidade movimentada, com acidentes de viação espetaculares, não só porque os portugueses conduzem de uma maneira intrépida, mas também porque estão genuinamente contentes - e por isso deixaram de respeitar os semáforos.» 

Há uma prudência enorme nos textos de Gabo sobre Lisboa, o escritor quase anuncia que a Revolução tem os dias contados, que a Europa, os Estados Unidos e as divisões internas arrastarão inevitavelmente o país para longe da sua essência. García Márquez teme o rumo que as elites estão a tomar, mas encontra nobreza no povo. «Toda a gente fala e ninguém dorme, às quatro da manhã de uma quinta-feira qualquer não havia um único táxi desocupado. A maioria das pessoas trabalha sem horários e sem pausas, apesar de os portugueses terem os salários mais baixos da Europa. Marcam-se reuniões para altas horas da noite, os escritórios ficam de luzes acesas até de madrugada. Se alguma coisa vai dar cabo desta revolução é a conta da luz.»


O mais belo dos ofícios

«Sou fundamentalmente um jornalista», disse o maior romancista colombiano, há 22 anos, numa entrevista a uma rádio de Bogotá. «O jornalismo é uma paixão insaciável que só pode ser digerida e humanizada no confronto descarnado com a realidade. Quem não tiver nascido para isto, quem não estiver disposto a viver exclusivamente para isto, jamais poderá permanecer neste ofício incompreensível e voraz, cuja obra termina após cada notícia, como se fosse para sempre, mas que não concede tréguas até começar tudo de novo, com mais ardor do que nunca, no minuto seguinte.» Gabo, que se tornou um dos escritores mais influentes do mundo, que ganhou um Nobel a escrever ficção, sempre considerou que a melhor das narrativas era a realidade. 

As suas reportagens sobre Lisboa não tiveram grande impacte na Colômbia, mas ele insistiu sempre na necessidade de escrever histórias como aquelas para que lentamente os horizontes dos cidadãos se abrissem. «As edições que tinham estes temas internacionais eram as que menos vendiam», recorda Enrique Santos Calderón. «Mas Gabo tinha avançado com o dinheiro e queria escrever sobre Portugal, como depois quis escrever sobre Cuba e mais tarde sobre Angola.» O seu interesse sobre o país tinha mais de um ano. «Entre 1968 e 1974, García Márquez viveu em Barcelona, foi lá que escreveu OOutono do Patriarca. Logo a seguir à Revolução dos Cravos, ele pegou no carro e foi até à fronteira portuguesa, mas não o deixaram entrar porque não tinha visto.» 

Desde o final de 1973 que o homem andava em trânsito: Barcelona, Bogotá e Cartagena de Índias. No ano anterior tinha ganho, com Cem Anos de Solidão o prémio literário venezuelano Rómulo Gallegos, o mais importante da América Latina, no valor de cem mil dólares. Uma parte desse dinheiro foi usada para fundar a revista Alternativa. «Depois da morte de Allende e da subida ao poder de Pinochet, tornara-se claro que a esquerda na América Latina precisava de esquecer as divisões e de se unir em torno de um projeto comum», explica Antonio Cavallero. «No primeiro número, em fevereiro de 1974, esgotámos a edição e num instante chegámos aos quarenta mil exemplares. A nossa filosofia era dar uma visão de esquerda, mas tratar os assuntos com rigor.» 

Portugal foi a primeira grande reportagem no estrangeiro da Alternativa. Nos anos seguintes, García Márquez haveria de escrever artigos sobre Cuba, Angola, Espanha, Panamá, Rússia e Vietname. «Não quero um boletim sindical, quero um jornalismo sério e comprometido até ao tutano», repetia uma e outra vez, nas reuniões que se prolongavam até altas horas da noite, em casa de Enrique Santos Calderón. As rivalidades internas e as pressões do governo fizeram Gabo desistir do projeto em 1980 e mudar-se para a cidade do México. Até 1978, a presidência de Alfonso López tinha dado alguma margem de manobra à Alternativa. A subida ao poder do governo conservador de Julio César Turbay coincidiu com o aperto do cerco ao escritor. Algumas figuras poderosas do país, nomeadamente a família Santo Domingo, anunciaram cortes de relações. «A saída da Colômbia foi um exílio não declarado», diz Jaime Abelló, presidente da Fundação de Novo Jornalismo Ibero-Americano, que ambos fundaram em Cartagena de Índias há 19 anos.
Jaime García Márquez é perentório: «O período mais político da vida do meu irmão começou com a revolução cubana e terminou com o fim da revista Alternativa.» Ao contrário do senso comum, diz ele, Gabo nunca foi comunista. «Era amigo de Fidel Castro, sim, mas também se dava com Henry Kissinger [secretário de Estado norte-americano entre 1969 e 1977], apesar de discordar dele. Fascinavam-lhe as lutas de classes, as transformações sociais, a ascensão do povo, tanto quanto era fascinado pelo poder. Toda a sua obra, de Cem Anos de Solidão a OOutono do Patriarca, passando por O General no Seu Labirinto e Ninguém Escreve ao Coronel, fala da solidão do poder, da subida ao poder e das vítimas do poder.» 

Juan Gossaín, o jornalista que recebeu um postal lisboeta de Gabo, acredita que houve um pouco desse fascínio no seu encantamento por Portugal. «A ele sempre lhe fascinou a ideia do ditador e, comparado a Franco, Salazar era mais tropical. Lisboa parecia uma cidade do Caribe e a figura de Spínola, que no fim do século xx ainda usava monóculo, era digna do realismo mágico dos seus livros.» Esta, diz Gossaín, era a conversa antes de partir para Portugal. Quando voltou, vinha doido com três descobertas: o Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, os fados de Amália e o despojamento dos militares em relação ao poder. «Mas a primeira coisa que ele me disse foi que, ao contrário do que eu pudesse pensar, a feijoada não era um exclusivo brasileiro. E garantiu-me que comeu a melhor feijoada da sua vida num restaurante que não tinha mais de seis mesas, num bairro pobre de Lisboa.» 


Crónica de uma morte anunciada

O anúncio feito por Jaime García Márquez em julho do ano passado causou alguma consternação no mundo literário. Aos 85 anos, o mais lido dos autores latino-americanos e um dos romancistas mais reconhecidos do mundo deixou de escrever. Não é bem uma morte, mas é um ponto final em tudo o que definiu a sua vida. A sua autobiografia chamava-se, precisamente, Viver para Contá-la

Nascido em 1927 em Aracataca, no Caribe colombiano, Gabriel foi o mais velho de 12 irmãos. Estudou Direito em Bogotá, mas, aos 21 anos, decidiu abandonar os estudos para se dedicar ao jornalismo. Mudou-se para Cartagena de Índias e empregou-se no El Universal. Daí rumou a Barranquilla, outra cidade caribenha, onde escreveu uma crónica que deu nas vistas, «Septimus». Até que, ao serviço de um dos principais jornais do país, El Espectador, se tornou conhecido em todo o país. Ao longo de uma série de 14 episódios contou a história do naufrágio de um barco e conseguiu com isso pôr em causa todo o governo colombiano. Os fascículos haveriam de ser reunidos no livro Relato de Um Náufrago

Depois da afronta ao executivo, o jornal decidiu enviá-lo como correspondente para a Europa. Foi aí que o homem começou a dedicar-se seriamente à escrita. Em 1955, já tinha publicado um romance que escrevera aos 18 anos, LaHojarasca e, em 1967, edita Cem Anos de Solidão, um romance centrado na imaginária terra de Macondo e das sete gerações da família Buendía. Considerada a obra maior do realismo mágico, até hoje, é indubitavelmente o livro de referência de Gabo. Graças a este romance e a O Outono do Patriarca [1975], ganhou todos os prémios que podia ganhar, incluindo o Nobel da Literatura, em 1982. 

Voltou ao jornalismo em 1974, para fundar a revista Alternativa, aventurando-se no jornalismo político. Aproveitou a sua reputação para viajar pelo mundo e, nesse contexto, veio a Lisboa em 1975, perceber a revolução e o período que se lhe seguiu. Apesar de ser já uma figura de proa das letras mundiais, essa viagem foi praticamente ignorada em Portugal, merecendo referências brevíssimas no Diário de Notícias, Jornal de Letras e no extinto Diário Popular. Em 1980, abandonaria o jornalismo, ao qual só voltaria em 1994, para fundar com Jaime Abelló uma fundação em Cartagena de Índias que promovesse a ética profissional e a investigação na América Latina e na Península Ibérica.

Crónica de Uma Morte Anunciada, Do Amor e Outros Demónios, OGeneral no Seu Labirinto, O Amor nos Tempos de Cólera e Memórias das Minhas Putas Tristes são algumas das suas obras mais relevantes. Há um mês, saiu na Colômbia uma coletânea de reportagens de Gabriel García Márquez, com o título Gabo Periodista. Reúne crónicas, reportagens e ensaios. Entre os trabalhos publicados não há registo de nenhuma das histórias que escreveu sobre Portugal. 
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