José Tengarrinha nasceu em Portimão, em 1932. Concluiu o ensino liceal
em Faro e veio para Lisboa com 17 anos. Aqui residiu até aos 55. Actualmente,
vive em S. João do Estoril. É doutorado em História e Professor Catedrático da
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Jubilado, desde 2002.
I.
Durante
a ditadura a sua vida pessoal e profissional foi fortemente condicionada pela
sua consciência cívica e actividade política.
Iniciou a actividade política aos 15 anos, no MUD
Juvenil (Movimento de Unidade Democrática), de que foi membro da Comissão
Central.
Actuou com funções de responsabilidade em todas as
grandes campanhas políticas da Oposição Democrática, que se desenvolveram desde
1958 a
1974.
Foi candidato nas listas da Oposição pelo círculo de
Lisboa, nas eleições realizadas para a Assembleia Nacional, em 1969 e 1973.
Participou, como responsável por uma das secções, no
Congresso Republicano de 1969 e integrou a Comissão Coordenadora do Congresso
da Oposição Democrática de 1973.
Foi detido pela PIDE, em inúmeras ocasiões – prisões
relacionadas com as actividades políticas que desenvolvia e com as organizações
oposicionistas a que pertencia (MUD Juvenil, Partido Comunista Português e
CDE). Três prisões totalizaram 14 meses no Aljube e em Caxias.
Esteve detido durante um ano na Companhia
Disciplinar de Penamacor, onde cumpriu o serviço militar por razões políticas.
Durante as prisões foi sujeito a torturas, entre as
quais a tortura de sono, na prisão de Dezembro de 1961.
Na sequência desta prisão, foi expulso do Ensino
Secundário e, então, também, impedido pela Censura de exercer a actividade
profissional de jornalista. A PIDE fez sempre pressões para que fosse despedido
em todos os empregos que procurou.
Encontrava-se preso no Forte de Caxias, em regime de
isolamento e rigorosa incomunicabilidade, quando se deu o 25 de Abril, tendo
sido libertado apenas no dia 27.
II.
Em meados da década de 50, quando frequentava o Curso de
Histórico‑Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa fez
parte do núcleo redactorial de Lisboa da revista Vértice, com António José Saraiva, Júlio Pomar e Maria Lamas. Iniciou
então investigações sistemáticas sobre a história oitocentista portuguesa.
Frequentou esse Curso como voluntário, por se encontrar
então detido na Colónia Penal de
Penamacor, depois de ter sido expulso do Corpo de Oficiais Milicianos sob a
acusação de desenvolver actividades contra a segurança do Estado.
Em 1958, apesar das condições adversas, criadas também por
alguns docentes, concluiu a licenciatura em Ciências Históricas e Filosóficas,
na Faculdade de Letras de Lisboa.
Jornalista profissional desde 1953 (Jornal
República), iria fazer parte do grupo fundador de um jornal, considerado
inovador, o Diário Ilustrado, de que
foi chefe da Redacção até 1962, quando a Censura impôs a cessação da sua
actividade jornalística, após prisão pela polícia política em Dezembro de 1961.
Nos princípios da década de 60 integrou o corpo
redactorial da revista Seara Nova.
Em 1962 foi‑lhe atribuído o prémio da Associação dos Homens de Letras do Porto, com apoio da
Fundação Calouste Gulbenkian, pelo conjunto de ensaios publicado no jornal Diário de Lisboa, no ano anterior, sob
o título António Rodrigues Sampaio, desconhecido.
De 1963 a 1966, a Fundação Calouste
Gulbenkian concedeu‑lhe uma bolsa de estudo para prosseguir as investigações
sobre a História Oitocentista Portuguesa.
Foi
fundador e director – com os Professores Vitorino Nemésio, Joel Serrão e José
Augusto França – do Centro de Estudos do
Século XIX do Grémio Literário (que funcionou desde 1969 a 1974, apoiado pela
Fundação Calouste Gulbenkian) e, como tal, tendo sido promotor e participante
de cursos, conferências e colóquios, sobre temas da nossa história Oitocentista,
com a colaboração de qualificados historiadores e sociólogos nacionais e
estrangeiros.
Em
1973 assumiu a direcção, com os Professores Tiago de Oliveira e Joel Serrão, da
preparação da enciclopédia Logos.
No
âmbito das actividades do Centro de
Estudos do Século XIX, regeu cursos sobre História Contemporânea de
Portugal, no Grémio Literário, desde
1970 a
1973 (frequentados sobretudo por estudantes universitários, que viam neles um
complemento da formação de que não dispunham na Universidade).
No
ano lectivo de 1972/73, a convite do Vice‑Reitor da Universidade Técnica de
Lisboa (Prof. António Maria Godinho), deu lições sobre História económica portuguesa dos séculos XVIII e XIX, no Instituto
Superior de Economia, integradas nas cadeiras de Economia IV e V.
III.
Após o 25 de Abril foi eleito presidente
do MDP/CDE e, por esse partido, deputado às Constituintes e em diversas
legislaturas.
O Plenário dos estudantes da Faculdade
de Letras de Lisboa, após o 25 de Abril, decidiu integrá-lo no seu corpo docente,
o que aconteceu a partir de Outubro de 1974.
Como
deputado da Assembleia da República foi Vice‑presidente da Comissão
Parlamentar de Educação, coordenador e um dos redactores do projecto que daria
origem à Lei de Bases do Sistema Educativo.
Em 1974 foi convidado a reger a cadeira de “História do Jornalismo” no Curso Superior de Jornalismo do Instituto
Superior de Meios de Comunicação Social, actividade que exerceu até ao
encerramento desse Instituto, em 1982.
Em
Outubro de 1974 foi convidado a ingressar no corpo docente da Faculdade, na
categoria de equiparado a professor auxiliar. Doutorou-se nesta Faculdade em
1993.
Regeu, a partir de então, as
seguintes cadeiras:
História
Contemporânea de Portugal, depois denominada História de Portugal, sécs. XVIII‑XX.
História
Económica e Social – sécs. XVIII‑XX.
História Geral
Contemporânea,
em substituição da anterior, desde 1990.
Criou,
dirigiu e leccionou mestrados, em Portugal, nas áreas da História
Contemporânea, História Moderna, História do Brasil, História da Imprensa
Periódica, História Regional e Local, Cultura e Formação Autárquica. Orientou,
nestas áreas, numerosas teses de mestrado e doutoramento. Leccionou em cursos e
seminários de doutoramento em Universidades estrangeiras, entre outras:
Florença, Pescara, Bolonha, Paris VII, Nantes, Valladolid, Bilbao, Autónoma de
Barcelona, Carlos III de Madrid, Sevilha, Canárias, École des Hautes Études en
Sciences Sociales de Paris.
Professor
visitante da Universidade de São Paulo para cursos de pós-graduação.
Integra
conselhos de redacção e editoriais de revistas de História e Ciências Sociais
de Portugal, Espanha e Brasil.
Tem
desenvolvido outras actividades no campo da Cultura:
Foi
responsável científico pelo colóquio sobre “O Barroco e o Mundo Ibero‑Atlântico”,
promovido pelo Instituto de Cultura Ibero‑Atlântica, com sede em Portimão, que
decorreu entre 9 e 11 de Maio de 1997.
Convidado
a integrar o Comité Científico do IV Congreso Internacional en Rehabilitación
del Patrimonio Arquitectónico y Edificación, que se realizou em Havana, na
segunda quinzena de Julho de 1998.
Integrou
o júri do prémio de História “Alberto Sampaio”, instituído pelas câmaras
municipais de Famalicão e Guimarães.
Coordenou
um grupo de trabalho, a convite da Comissão dos Descobrimentos, encarregado de
elaborar um parecer, no Encontro entre Professores de História Portugueses e
Brasileiros sobre o Ensino da História do Brasil em Portugal.
Foi
convidado pelo Ministério da Educação a integrar a Comissão Científica do Congresso
Luso‑Brasileiro “Portugal‑Brasil: Memórias e Imaginários”, que se realizou
em 1999.
IV.
Tem
numerosas obras publicadas em Portugal e no estrangeiro, no domínio da História
e das Ciências Sociais, com destaque para Obra
Política de José Estêvão, 1962; História
da Imprensa Periódica Portuguesa, 1965 e 1989; A Novela e o Leitor. Estudo de Sociologia da Leitura, 1973; Diário da Guerra Civil. Sá da Bandeira,
1975-1976. Combates pela Democracia,
1976; Estudos de História Contemporânea
de Portugal, 1983; Da Liberdade
Mitificada à Liberdade Subvertida; Uma Exploração no interior da repressão à
imprensa periódica de 1820 a
1828.
Movimentos Populares Agrários em
Portugal – 1750-1825, 1994; História do Governo Civil de Lisboa,
2002; Imprensa e Opinião Pública em
Portugal, 2006; E o Povo onde está?
Política Popular, Contra-Revolução e Reforma em Portugal, 2008. Portimão e a Revolução Republicana,
2010. Numerosas separatas da sua autoria foram editadas por universidades de
Itália, França, Holanda e Espanha, além de Portugal.
No
Brasil (São Paulo), publicou A
Historiografia Portuguesa, Hoje, 1999;
Historiografia Luso-Brasileira Contemporânea, 1999 e História de Portugal, 2003 (3 edições).
Em
2011, a
convite da Assembleia da República, publicou José Estêvão – O Homem e a Obra.
Em
Fevereiro de 2012 faz, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, a apresentação
pública dos resultados do projecto Legislação
do Brasil Colonial. 1502-1706.
V.
Actualmente
É
Director dos Cursos Internacionais de Verão realizados em Cascais, todos os
anos, desde 1992.
É Presidente (e foi fundador) do Centro
Internacional para a Conservação do Património (CICOP – Portugal), com sede
mundial em Tenerife.
É Presidente do Instituto de Cultura e
Estudos Sociais (sediado em Cascais), que tem organizado cursos de mestrado
e outros cursos sobre diversos temas e apoiado projecto de investigação
pós-doutoramento de historiadores portugueses e brasileiros.
VI.
Em
2006 recebeu a Medalha de Honra do Município de Cascais.
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